Nós vivemos num
mundo em que tudo nos afecta. Consciente ou inconscientemente.
O ciclo da vida é
um ciclo de união entre todos os elementos vivos e mortos visíveis ou
invisíveis. As fases da lua, lá no universo, afectam as marés aqui no planeta,
as marés afectam a forma como navegamos e pescamos, conhecimento para isso é
passado de geração em geração nas linhagens familiares, o peixe que comemos
afecta o nosso corpo e a nossa mente com os seus nutrientes, uma mente bem ou
mal alimentada com ômega 3 e 6 do peixe vai ter os seus efeitos no nosso humor,
e o nosso humor, a forma como nos sentimos connosco mesmos balança o nosso
emocional, o nosso emocional afecta as crenças que temos de nós mesmos e acaba
afectando a forma como lidamos uns com os outros… É um mundo de conexão, de
união…
União é uma
palavra que tem estado adormecida entre nós mulheres. Numa longa história
resumida, há milénios atrás quando haviam muito mais sociedades matriarcais, muito
mais culto à Deusa, à fertilidade, à natureza e às estações do ano, mulheres
possuíam, conhecimento, sabedoria, e com isso poder que passavam de geração em
geração, de mulher para mulher. Mulheres se elevavam umas às outras construíam
e governavam reinos e impérios, lideravam exércitos.
Com o crescimento
do patriarcado, muito pela força esse poder e sabedoria foram sendo destruídos.
Na intenção de
desprover qualquer grupo, e neste caso as mulheres, de poder o lema dividir
para reinar é imperioso! Dividir as mulheres criou a desunião entre elas. Este
dividir começou com base no medo no temer pela própria vida, na necessidade forçada
e criada no ter que entregar a outra para sobreviver ou viver minimamente bem.
Cria-se um vácuo, um vazio na mulher, uma falta, que com a presença da outra
faz com que a ela sinta que esse vazio se abre ainda mais. Cria-se insegurança
na mulher pelo seu bem-estar e a noção ilusória de que só prejudicando,
diminuindo, desconsiderando, afastando, julgando a outra nos sentiremos
minimamente melhores.
A energia mudou,
estamos num novo tempo, numa nova era. As mulheres estão em busca do seu
crescimento pessoal, estão em busca de si mesmas, e quando nos voltamos para
nós mesmas temos que nos encarar com a nossa espiritualidade, porque a
espiritualidade está mesmo dentro de nós, de todos nós!
Quando nos
encaramos com a nossa espiritualidade, o caminho, seja ele qual escolhamos, não
é fácil.
E este de olhar
para outra mulher e vê-la como uma adversária, um alvo a abater, é um que nos
mostra uma ferida muito grande da alma que nós temos. Ele mostra-nos
exactamente aquele lugar em que temos o vazio, o vácuo. Mas para onde não
queremos olhar, porque é doloroso demais. Demais mesmo, podemos ter vontade até
de não querer existir mais a ter que lidar com essa dor. Essa mulher para quem
olhamos como adversária e olhamos com inveja, activa esse lugar de dor
espiritual em nós, ela funciona como um espelho para nós. Nos mostra
exactamente que onde ela é abundante, é onde nós estamos a viver em escassez. E
essa escassez é unicamente de nossa responsabilidade. Curar essa dor, mudar
essa mentalidade de escassez, dá muito medo, medo de nos enfrentarmos a nós
mesmas. Mas é necessário faze-lo.
Esse caminho
precisa ser feito. E quando queremos fazer esse caminho, não sabemos por onde
ir, por onde começar. E não confiando as nossas vulnerabilidades a outra
mulher, porque estamos a vibrar em desconfiança, pensamos que um homem, seja de
que maneira fôr: nos ouvindo, fazendo amor connosco, sendo nosso namorado, nos
dando carinho, nos dando bens materiais; nos pode ajudar a curar, a suprir esse
vácuo, essa dor.
Mas nenhum homem
irá entender tão bem essa dor quanto uma mulher como nós. Essa dor vem bem lá
do fundo de uma perda, de uma ferida que foi causada há milénios atrás na destruição
da nossa essência como mulheres. E só outras mulheres, que sentem o mesmo que
nós, poderão nos ajudar a curar. No ADN delas, está essa mesma marca dessa
ferida. Acredita, está!
Só quando nos
curamos podemos ajudar outras mulheres. E quando nos curamos genuinamente,
naturalmente se forma um elo, se abre um canal de luz que nos permite ver que
estamos todas interligadas. Nesse momento cresce uma enorme vontade, surge um
impulso forte, que não se consegue negar de estender a mão a outra mulher e
dizer, vem que eu te acolho, vem que eu te mimo, vem que eu te ajudo!
Graças à Deusa,
nem toda a sabedoria ancestral feminina ficou perdida. Ela ficou espalhada,
fragmentada pelos quatro cantos deste mundo. Mulheres sábias silenciaram-se
para os ouvidos que tomaram o poder do mundo, mas em sussurros, em preces,
dentro de tranças, em canções, em orações, em danças, em brincadeiras, em
livros de receitas, secretamente foram passando mensagens umas às outras e
mantendo viva, ainda que fragmentada a sabedoria ancestral de união e poder
feminino. E nós sentimo-la, nós sentimos quando dentro de nós se activa a força
espiritual que nos cura, nos liberta e nos faz perceber as ligações e conexões
que existem entre nós de forma tão clara e pura quanto água de nascente.
E agora aos
poucos vamos nos contando umas às outras, unindo os pontos, costurando a
tapeçaria. Criando novamente um mundo de mulheres sábias, recheado de amor e
união.
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