domingo, 1 de março de 2020

Omm, Shakti


Nós vivemos num mundo em que tudo nos afecta. Consciente ou inconscientemente.

O ciclo da vida é um ciclo de união entre todos os elementos vivos e mortos visíveis ou invisíveis. As fases da lua, lá no universo, afectam as marés aqui no planeta, as marés afectam a forma como navegamos e pescamos, conhecimento para isso é passado de geração em geração nas linhagens familiares, o peixe que comemos afecta o nosso corpo e a nossa mente com os seus nutrientes, uma mente bem ou mal alimentada com ômega 3 e 6 do peixe vai ter os seus efeitos no nosso humor, e o nosso humor, a forma como nos sentimos connosco mesmos balança o nosso emocional, o nosso emocional afecta as crenças que temos de nós mesmos e acaba afectando a forma como lidamos uns com os outros… É um mundo de conexão, de união…

União é uma palavra que tem estado adormecida entre nós mulheres. Numa longa história resumida, há milénios atrás quando haviam muito mais sociedades matriarcais, muito mais culto à Deusa, à fertilidade, à natureza e às estações do ano, mulheres possuíam, conhecimento, sabedoria, e com isso poder que passavam de geração em geração, de mulher para mulher. Mulheres se elevavam umas às outras construíam e governavam reinos e impérios, lideravam exércitos.

Com o crescimento do patriarcado, muito pela força esse poder e sabedoria foram sendo destruídos.
Na intenção de desprover qualquer grupo, e neste caso as mulheres, de poder o lema dividir para reinar é imperioso! Dividir as mulheres criou a desunião entre elas. Este dividir começou com base no medo no temer pela própria vida, na necessidade forçada e criada no ter que entregar a outra para sobreviver ou viver minimamente bem. Cria-se um vácuo, um vazio na mulher, uma falta, que com a presença da outra faz com que a ela sinta que esse vazio se abre ainda mais. Cria-se insegurança na mulher pelo seu bem-estar e a noção ilusória de que só prejudicando, diminuindo, desconsiderando, afastando, julgando a outra nos sentiremos minimamente melhores. 

Histórias foram criadas para dividir mulheres. Umas foram chamadas de bruxas e disse-se que tinham poderes que faziam delas uma ameaça para todos, especialmente para as outras mulheres com quem elas lidassem. Criaram-se histórias que reforçavam a rivalidade entre as mulheres, como Cinderelas, Brancas de Neve, Pequenas Sereias… Transformou-se o homem em troféu, em alvo de disputa! Elas devem ser sempre as mais o que quer que seja e eles escolherão sempre as melhores, todas as outras ficarão no vazio, no desamor, no abandono, na feiura e na pobreza (porque o homem é sempre um príncipe rico e lindo), criou-se a mentalidade do medo e da escassez. Pôs-se as mulheres a vibrar nisso, e elas nesse ciclo ficaram por longos e milhares de anos.

A energia mudou, estamos num novo tempo, numa nova era. As mulheres estão em busca do seu crescimento pessoal, estão em busca de si mesmas, e quando nos voltamos para nós mesmas temos que nos encarar com a nossa espiritualidade, porque a espiritualidade está mesmo dentro de nós, de todos nós!

Quando nos encaramos com a nossa espiritualidade, o caminho, seja ele qual escolhamos, não é fácil.
E este de olhar para outra mulher e vê-la como uma adversária, um alvo a abater, é um que nos mostra uma ferida muito grande da alma que nós temos. Ele mostra-nos exactamente aquele lugar em que temos o vazio, o vácuo. Mas para onde não queremos olhar, porque é doloroso demais. Demais mesmo, podemos ter vontade até de não querer existir mais a ter que lidar com essa dor. Essa mulher para quem olhamos como adversária e olhamos com inveja, activa esse lugar de dor espiritual em nós, ela funciona como um espelho para nós. Nos mostra exactamente que onde ela é abundante, é onde nós estamos a viver em escassez. E essa escassez é unicamente de nossa responsabilidade. Curar essa dor, mudar essa mentalidade de escassez, dá muito medo, medo de nos enfrentarmos a nós mesmas. Mas é necessário faze-lo.

Esse caminho precisa ser feito. E quando queremos fazer esse caminho, não sabemos por onde ir, por onde começar. E não confiando as nossas vulnerabilidades a outra mulher, porque estamos a vibrar em desconfiança, pensamos que um homem, seja de que maneira fôr: nos ouvindo, fazendo amor connosco, sendo nosso namorado, nos dando carinho, nos dando bens materiais; nos pode ajudar a curar, a suprir esse vácuo, essa dor.

Mas nenhum homem irá entender tão bem essa dor quanto uma mulher como nós. Essa dor vem bem lá do fundo de uma perda, de uma ferida que foi causada há milénios atrás na destruição da nossa essência como mulheres. E só outras mulheres, que sentem o mesmo que nós, poderão nos ajudar a curar. No ADN delas, está essa mesma marca dessa ferida. Acredita, está!

Só quando nos curamos podemos ajudar outras mulheres. E quando nos curamos genuinamente, naturalmente se forma um elo, se abre um canal de luz que nos permite ver que estamos todas interligadas. Nesse momento cresce uma enorme vontade, surge um impulso forte, que não se consegue negar de estender a mão a outra mulher e dizer, vem que eu te acolho, vem que eu te mimo, vem que eu te ajudo!

Graças à Deusa, nem toda a sabedoria ancestral feminina ficou perdida. Ela ficou espalhada, fragmentada pelos quatro cantos deste mundo. Mulheres sábias silenciaram-se para os ouvidos que tomaram o poder do mundo, mas em sussurros, em preces, dentro de tranças, em canções, em orações, em danças, em brincadeiras, em livros de receitas, secretamente foram passando mensagens umas às outras e mantendo viva, ainda que fragmentada a sabedoria ancestral de união e poder feminino. E nós sentimo-la, nós sentimos quando dentro de nós se activa a força espiritual que nos cura, nos liberta e nos faz perceber as ligações e conexões que existem entre nós de forma tão clara e pura quanto água de nascente.

E agora aos poucos vamos nos contando umas às outras, unindo os pontos, costurando a tapeçaria. Criando novamente um mundo de mulheres sábias, recheado de amor e união.

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