domingo, 29 de março de 2020

O Corpo Feminino Sagrado


Quando nascemos somos puras, sabemos o que viemos ao mundo fazer, sabemos quem somos, de onde viemos e estamos em constante contacto com os seres de luz que nos guiaram até a este mundo.

Ao crescer, este mundo nos vai ensinando os seus meios, nos vai ensinando como nos devemos comportar nele, como devemos usar os nossos corpos, e é tanta coisa para aprender- porque precisamos aprender para sobreviver-, é um aprendizado tão intenso que aos poucos nesse esforço que fazemos vamos deixando a nossa conexão com a nossa história e com os nossos companheiros divinos. Coisas que já existiam muito antes do nosso nascimento.

Recuperar a esta nossa identidade espiritual, muitas vezes leva-nos à religião, o que também nos ensina novas coisas sobre nós. Coisas em que acreditamos, independentemente de as sentirmos como verdadeiras ou não nos nossos corpos, nos nossos corações. Criamos o nosso sistema de crenças e vivemos segundo elas.

Quando no Sagrado Feminino se fala num corpo feminino sagrado esta noção pode soar muito parecida à que nos foi ensinada pela religião. E apesar de ter algumas semelhanças pois partes das religiões foram inspiradas nos princípios do Sagrado Feminino também, as noções são um tanto diferentes.

Considerar o nosso corpo sagrado, não é fecha-lo a sete chaves e esconde-lo do mundo, oferece-lo só e unicamente ao homem que nos traz o casamento. Muito pelo contrário, é despir-se de roupas, conceitos e ordens. É olhar-se a si própria sem se julgar, sem preconceitos, sem hesitações e... Amar-se! 

É ser-se verdadeira a si mesma.

Olhar para cada curva dos seus seios, estando consciente de que você tem a capacidade nutridora. E quando falo nutridora, não falo só do amamentar um bebé. Falo de todo o tipo possível e imaginário de nutrição que as mulheres sabem dar. Nutrição emocional, psicológica, espiritual, física e até profissional. Estar conscientes de que a estrutura física desses seios lhe permite alimentar a humanidade e a sua consciência, e de que até que o ser humano esteja desenvolvido o suficiente para comer aquilo que a terra lhe dá, para ser autónomo de mente, corpo e espírito, são os seus seios que lhe fornecem o alimento, cólo, alento, que o nutre e o capacita para estar pronto para digerir um fruto, uma experiência, um desafio.

Olhar para os seus pés e ver o quão fortes eles são por sustentar todo o seu peso, e leva-la em frente no seu caminho pelo mundo. Dê-se conta que os seus pés lhe garantem liberdade.
A minha bizavó dizia, "a sorte está nos teus pés." Eles tiram-na da cama, fazem-na erguer-se, só eles a encaminham para o seu destino, só eles a tiram da inércia e procrastinação e têm a força de estremecer o chão com todo o seu poder a cada passo que dá!

Olhar para as suas mãos e estar grata pelo infindável número de coisas que elas lhe permitem fazer: mãos que acariciam, mãos que curam, mãos que trabalham, mãos que cria, mãos que enxugam lágrimas e acalentam prantos em horas difíceis, mãos que transmitem energia através de gestos sinceros, mãos que cozinham para mais uma vez alimentar a humanidade. O equilíbrio e saúde da humanidade depende das suas mãos.

Olhar para as suas pernas e ver o quão fortes e ao mesmo tempo suaves macias e quentes elas são. Quantos colos elas oferecerão, quantas crianças se sentirão seguras sobre e entre elas, quantas vezes elas guiarão o homem ao doce da vida de que elas são guardiãs. Pela sua força e maciez, elas defendem, guiam, acolhem, guardam.

Olhar para o seu ventre e saber que nele reside o campo energético, o portal que estabelece a comunicação entre o universo, o mundo espiritual e a terra, o mundo material. Saber que só através desse portal é possível as almas virem encarnar neste mundo, saber que através dele é possível fazer o caminho para a transcendência, saber que no mundo este é o único meio material pelo qual se chega ao, e se vem do espiritual. Saber que por causa disso a ligação das mulheres com o mundo espiritual é mais fluída, mais rápida, mais facilitada.

Olhe-se consciente de tudo isto e diga-me se não é sagrado o seu corpo? Se não merece que o ame, que dance e cante em sua honra, que o venere e cuide bem dele, deixando que só toque em sua pele aquilo que não a vai lastimar, cortar, intoxicar, magoar. Deixando que só entre pela sua boca alimento que o vai nutrir e não que o vai destruir. Deixando que o seu corpo lhe fale, lhe mostre o que é bom para ele e o que não é, deixando que ele guie os seus movimentos e se desprenda das amarras ensinadas pela sociedade para o conter.

O seu corpo é selvagem. Ele quer sentir, ele quer SE sentir. Ele quer se expressar, quer criar, quer falar, quer ser ouvido, quer ser doce, quer ser livre, quer... SER!

É no simples deixar ser, que encontramos a essência, que encontramos o sagrado, que encontramos a Deusa...

Sara

domingo, 22 de março de 2020

A Dúvida do Bebé


Quando um bebé está para chegar, imagino ser esse o momento em que um espírito tem o o primeiro contacto com a dúvida. Esse questionamento humano que tanto nos tira o sossego.

Um espírito não tem dúvida, um espírito vive numa certeza sobre o tudo e o nada, tem uma sabedoria infinita que lhe permite não sentir dúvida porque tudo o que precisa saber já o sabe por intuição. Chamaa simlpesmente o conhecimento e muito rápiamente ele vem até si.

Já quando o espírito começa uma jornada humana, grande parte desse conhecimento deixa-se ficar no lugar de que o espírito se vai distanciando, enquanto ele vai entrando no plano físico. Quando está completo o seu corpo físico e chega o momento de entrar para o mundo, sair do portal que é o ventre da sua mãe,, vem a dúvida. Muito como nós nos perguntamos o que está para lá da morte, um bebé deve-se perguntar o que está para lá daqui? 
Depois de passar à volta de 40 semanas dentro de um ventre em que lhe foram conferidas qualidades humanas e físicas, e devagarzinho se foi familiarizando com a escuta humana, o paladar humano, o toque humano, a visão humana, o olfato humano, e os sentimentos humanos- da mãe que o bebé sente, e os seus que vão surgindo em relação aos da mãe- ainda que em pequena dimensão, a dúvida que vem do que vai acontecer quando aquele cólo do útero se abrir completamente deve ser o sentimento mais forte e medonho que lhe pode invadir.

O que está do outro lado?  Tudo que esse espírito conheceu até ali como vida humana vai mudar? Como será? Quem irá encontrar? As sensações com que se familiarizou nesse tempo estarão ainda aí? Porque é que ouve de lá de fora tanta conversa relacionada com sair do lugar confrontável em que está para o mundo exterior? Tem mesmo que sair? Para quê sair?

Das coisas mais difíceis de fazer na nossa condição humana é sair da nossa zona de conforto. Pensem no quão difícil e angustiante é nos desafiarmos e sairmos da nossa zona de conforto pela “primeira vez”. A nossa primeira saída da nossa zona de conforto é o nosso nascimento. Podem imaginar o processo psicológico por que esse bebé passa?

O povo Dagara do norte de Afrika, que se espalha pelo Ghana Burkina Faso e Costa do Marfim, até hoje ainda faz uma cerimónia que muitos mais de nós povos afrikanos fazíamos quando vinha um novo ser para o mundo. Através da utilização de ervas e num ritual shamânico seguro, a mãe é levada a um transe em que se convida a que o espírito da criança com quem ela está concebida, tome voz pela própria mãe e diga quem é e ao que veio. Há vezes em que o espírito é a encarnação de um ancestral que já partiu há algum tempo, outras vezes é um espírito novo, seja quem for, o seu nome é decidido nessa cerimónia, consoante o ancestral que retorna, e ou consoante a missão que vem tomar no mundo. Um acordo é feito entre a comunidade, a família e a criança, em como esta criança será criada e em como a comunidade lhe ajudará a orientar-se para a sua missão de vida.

Esta cerimónia dá confiança ao espírito para o momento do nascimento e prepara os pais, família e a comunidade para que saibam como criar e ajudar esta criança que aí vem a lembrar-se da sua missão e encaminhar-se na vida. Em Áfrika, criar uma criança não é trabalho só do pai e da mãe, é trabalho comunitário, especialmente nas aldeias.

É pena que no mundo moderno em que vivemos menos e menos isto aconteça… E mais e mais nos questionamos como educar os nossos filhos, e pior, mais e mais queremos todos saber, passamos a vida em buscar de nos responder a nós mesmos, o que estamos aqui a fazer. Afinal a tecnologia indígena, como lhe chama Malidoma Patrice Somé, já tinha o mecanismo para resolver esta nossa dúvida.
Me pergunto, como podemos hoje em dia, não tendo acesso a essa tecnologia indígena conseguir ajudar-nos a nós mesmos e aos nossos filhos a ter uma transição para o mundo físico mais confiante e a saber como orientá-los na vida de acordo com o seu propósito, a sua missão e não de acordo com a imposição daquilo que nós que já estamos no mundo físico à mais tempo achamos que eles devem ser ou fazer. O que muitas vezes causa choques -internos e com os pais- com a essência de cada um deles.

Sei que a gravidez é um período em que a nossa mente nos obriga à introspecçao. A voltarmo-nos para nós mesmas, para a nossa intuição e para os nossos instintos. Sei que é necessária essa conexão connosco mesmas, para podermos conectar com os nossos filhos ainda dentro dos nossos ventres. Sei que telepatia começa por aí, por sabermos identificar o que são os nossos sentimentos, pensamentos e palvaras e quais são os dos nossos filhos. Sei que a meditação nos ajuda muitíssimo nisso e que ela é, nada, mais nada menos que um estado leve, muito leve de transe, que pode ser trabalhado e nos dá valiosos presentes. Eu mesma em meditação já pude ouvir, não o meu, mas o coração do meu filho dentro a bater de mim. Sei que perguntando ao meu filho se ele era menino ou menina, com toda a certeza ele me respondeu “quem pensas que sou? É claro que sou um menino” com a personalidade forte que até hoje aos cinco anos o caracteriza. Milhões de mães podem concordar comigo nos acontecimentos “mágicos” que não sabemos explicar, que acontecem durante a gravidez, que nos são trazidos pela nossa intuição e que por tanta dúvida, que o mundo que não nos ensinou a lidar com a nossa intuição nos põe, deixamos de confiar neles, ou confiamos, mas depois pô-mos naquela caixinha do “assuntos misteriosos ficam só aí” e não nos aprofundamos neles.

No entanto a intuição feminina, é daquelas coisas que sabemos que não falha. Ela existe por um motivo.

Existe comunicação entre mãe e filho, e sei que a mãe só tem que saber como se dá essa comunicação para que possa confiar nela e não pensar que seja algo “da sua cabeça”, para depois o varrer para fora da cabeça como se varre a poeira de casa. Já alguns médicos ao fim da gravidez nos perguntam “tem tido algum sonho que lhe chame mais atenção?”. Isto porque eles sabem que nos nossos sonhos vêm sim mensagens que podem ser determinantes para o nosso parto. A nossa mente tem essa capacidade e cada vez mais a neuro ciência vai dando importância e valor a isso. Cada vez mais somos estimuladas a conversar com os nossos filhos dentro do nosso ventre e a nos afastarmos daquilo que tanto física como emocional e psicologicamente nos afecta negativamente, porque também afecta negativamente as crianças dentro de nós. A comunicação de nós para os bebés já é facto. Falta agora sabermos ouvir e ler a comunicação dos bebés para nós.

Que tal irmos treinando ouvir aquela voz que na nossa cabeça responde quando chamamos docemente “baby…?”, quais são as primeiras palavras que aparecem na nossa mente, que pensamos que são a nossa imaginação? São mesmo? Que tal irmos nos deitar à noite meditarmos um bocadinho e pedirmos a esse bebé que venha conversar connosco nos nossos sonhos? E que tal acreditarmos nas respostas que recebemos quando fazemos isso?

Que lindo seria preparar o caminho para que o bebé venha com confiança.
Que lindo seria saber no nosso íntimo como ajudar esse ser a caminhar.

domingo, 15 de março de 2020

Raínhas Africanas


Soberania: qualidade ou estado de autoridade, poder supremo

Rainhas Africanas
Soberanas ancestrais

Apagaram a nossa história e fizeram-nos acreditar que éramos uma selva sem governantes. Que nunca escrevemos, que nunca estudámos. Que nós mulheres éramos nada mais do que alimentadoras e parideiras. Que história fantasiosa é essa?

Sobre as poucas rainhas africanas que tive a possibilidade de ler, reparei que havia também nelas um poder e controle sobre o seu corpo, a sua sexualidade, a sua linhagem e descendência. Uma independência e controle sobre a sua feminilidade e saúde sexual e reprodutiva que não nos foi transmitida, que foi cortada, dissolvida.

Ouvimos que Cleópatra, poderosa estadista, tremendamente estratega e inteligente que, tinha vários amantes, mas ouvimos isso contado como uma vergonha para uma mulher, como o comportamento que manchava a imagem da rainha, que a desvalorizava como mulher e portanto como soberana, apesar de não se poder ter escondido o valor dela, alguma coisa se deveria então mencionar-se para a diminuir. Cheguei a perguntar-me “e se o mundo era diferente naquela altura? E se naquela altura os papéis estavam invertidos e tal qual como hoje o homem é ovacionado por ter várias mulheres, era a mulher naquela altura que era? Não é afinal um sinal de poder quando um homem tem várias mulheres? Ou, se pura e simplesmente as mulheres naquela altura eram mais donas de si mesmas, do seu corpo e do seu dizer do que são hoje em dia, e depois foram derrubadas para se estabelecer a nova ordem que hoje conhecemos tão bem e com a qual lutamos para a quebrar.

Quantas mais rainhas poderosas teve a nossa Afrika?

Yaa Asantewa, raínha Ashanti no Ghana, que resistiu contra o colonialismo Inglês. Nefertiti do antigo Kemet, hoje Egipto que uniu em paz duas facções do Kemet que viviam em guerra. Makeda, raínha de Sheba, antiga Etiópia que desenvolveu o seu reino tornando-o tão grandioso e poderoso que o próprio Rei Salomão descreve-a como a epítome da beleza e de poder na bíblia. Kandake Amanirenas, também conhecida com Candace, que expulsou os Romanos do Sudão…Tantas são as poderosas mulheres do nosso continente, muitas mais há, são dez pelo menos as mais famosas, que aqui só eu não poderia descrever.

Nossa Nzinga também tinha o controle do poder do seu reino!
E controle do poder da sua fertilidade, do seu corpo. Não teve tantos filhos quanto aventuras sexuais, e esse conhecimento do seu ciclo e como evitar gravidezes já naquela altura o tinha, quando não existiam as pílulas a que hoje vivemos aprisionadas acreditando ser a melhor forma de controlo concepcional… Ou teria tido problemas de fertilidade? Encho-me de perguntas e apetece-me viajar no tempo para simplesmente observar três ciclos menstruais de cada uma dessas mulheres e aprender com elas.

A sabedoria das nossas ancestrais que se perdeu, que faz sentir-nos a nós perdidas, sedentas por informação sobre nós mesmas, precisa ser resgatada. Como se posicionavam as nossas ancestrais na vida, na família e na sociedade, no trono de poder que ocupavam antes de terem chegado cá as regras do norte, com que fomos mentalmente reprogramas?

Como pode ser que a sabedoria completa sobre o funcionamento do corpo feminino é detida exclusivamente pelo médico?

Como pode ser que a decisão sobre quando e como começar uma vida sexual não seja feita pela mulher com informação e autonomia e soberania?

Como pode ser que a decisão de engravidar e quantas vezes engravidar escapa do controle da mulher e se transforma numa pressão familiar, social e do marido?

Como pode ser que haja tanta crítica negativa e maldade à volta de uma mulher que esteja a batalhar com infertilidade?

Como pode ser que haja tanto taboo à volta do que significa ter um útero e uma vagina?

Eu me posiciono hoje para falar sobre aquilo que é sermos rainhas dos nossos ventres. É nosso território, mora dentro de nós, carrega informação genética e emocional de gerações passadas e gerações vindouras, carrega poder da força criadora. É o nosso reino!

O nosso ventre é reverenciado por várias culturas como a DIVINA MÃE. É indiscutivelmente sagrado! No entanto, a maior parte de nós mulheres não tem a soberania desse reino dentro de nós.

Porquê? E especialmente em Afrika, como é que um continente cheio de mulheres poderosas liderando reinos, nações e impérios, passou a ser um continente em que as mulheres não têm nem a soberania dos seus próprios corpos? Certamente não é porque não queremos.

Sermos soberanas do nosso ventre é sermos soberanas da nossa vida como mulheres. As decisões sobre a nossa vida reprodutiva condicionam todas as outras áreas da nossa vida. Condicionam todas as nossas escolhas e decisões académicas, sociais, profissionais, condicionam a nossa saúde física, mental e emocional.  Termos a sabedoria de como se dão os ciclos menstruais, e os ciclos de vida das mulheres, desde o nascimento até à morte, de como eles se relacionam com a natureza as estações e a lua, e de como pessoalmente se dão esses ciclos em nós, porque eles variam também de mulher para mulher, é crucial para que tomemos decisões e ações na nossa vida.

Os nossos ciclos de vida nos ensinam que temos a fase da Donzela em que a mulher é criança e adolescente, em que é livre, não pertence a ninguém e é completa em si mesma… Principalmente na fase da infância as meninas são selvagens e o aspeto selvagem delas não deve ser domesticado, pois é a sua essência que ela deve conhecer nessa fase, para que aprenda a ser fiel a ela mesma, e não a ser subjugada por outros. Depois mais à frente na adolescência, ainda deixando esse espírito selvagem de certa forma livre, é preciso que a mulher mais velha cuide da mulher adolescente com especial carinho, pois o poder dela agora começa a crescer, e ela precisa aprender a lidar com ele. O seu sangue vai começar a descer e aí entram na sua função educadora os ritos de iniciação, que dão a conhecer à mulher adolescente os segredos da sexualidade, da transição da fase da Donzela para a fase da Mãe e do novo ciclo em que ela entra agora, o menstrual.

O nosso ciclo menstrual deve ser conhecido por cada uma de nós, pois nos permite organizar a nossa vida mensalmente segundo a nossa energia, controlar o nosso humor e comportamentos, e também planear a nossa vida segundo os nossos planos de maternidade. Existindo eles ou não, querendo nós ser mães ou não, é conhecendo o nosso ciclo menstrual que sabemos quando temos chances de engravidar, quando não e o que fazer para engravidar ou para não engravidar de forma natural, sem precisar de químicos, só tendo o controle do poder reprodutor do nosso ventre.

É importante conhecer cada uma das fases do ciclo menstrual- a fase da menstruação, que marca o início do ciclo e está dentro da fase folicular aquela que prepara os óvulos para serem libertados, a fase ovulatória, que acontece, dias depois de pararmos de sangrar, é a fase em que os óvulos preparados são libertados e em que há as mais altas chances de engravidar- é o período fértil-, e a fase lútea que acontece depois da fase ovulatória e em que as chances de engravidar baixam drasticamente. Cada uma dessas fases, nos faz sentir de maneira diferente, nos faz agir de maneira diferente. Tendo esse conhecimento temos maior domínio sobre nós mesmas a cada altura do mês, planeamos melhor a vida, tomamos melhor as nossas decisões. Isto são atitudes de soberania para connosco mesmas. Este é um ensinamento que dever ser dado às adolescentes para que elas próprias possam tomar as rédeas e controle da sua vida, para que o espírito selvagem delas seja domando por elas mesmas, sabendo quando o usar e quando o acalmar.

Ganhando essa sabedoria em alguns anos a mulher passa para o novo ciclo da sua vida, o ciclo da Deusa Mãe. Torna-se uma mulher exuberante, no ápice da sua vida, cheia de energia sexual, que é energia criadora, ela é fértil, ela é próspera. Este é o momento da vida da mulher em que ela tem as energias para criar tudo, desde obras de arte, a negócios, a carreira, a filhos, a um mundo novo! Ela está na sua máxima potência e força vital. Por isso vemos muitas vezes mulheres que após a maternidade ou chegando perto dos seus 30 anos, se rebelam contra a sociedade, maridos ou família, que as prendiam encasuladas num mundo em que elas viviam abaixo das suas capacidades, e de repente aparecem em todo o seu esplendor e força mudando não só a si, mas o mundo à sua volta. É nesta fase que as rainhas reinam! É nesta fase que depois de elas adquirirem a soberania por si mesmas (na fase da Deusa Donzela) elas adquirem soberania sobre o mundo à sua volta. É uma fase de conquistas.

Depois de conquistar o mundo e estabelecer os seus impérios e reinados, as mulheres passam à fase da Deusa Sábia ou Anciã. É a fase em que a energia da mulher começa a diminuir, mas a sua experiência de vida já a ensinou tanto que ela é agora a anciã cheia de sabedoria, que sabe tudo desde aquilo que se vê até ao que está oculto. Ela é a rainha dos mistérios, ela já não se apoquenta com ansiedades, rege os desfechos e finais dos ciclos, deixa de menstruar e sabe muito bem guiar, apaziguar, acalmar, aconselhar. Sabe já que a morte faz parte da vida, pois dentro de si já morreram e nasceram várias mulheres. Sabe que o morrer é o primeiro passo para o renascer, não teme os ciclos da vida. Ela agora detém a soberania da vida.

Por isso mulheres, rainhas africanas, conhecendo-nos a nós mesmas nos transformamos em soberanas de nós mesmas, do nosso mundo, da nossa vida! O saber sobre nós mesmas é nosso, nos passamos umas às outras e o reconhecemos como verdadeiro através da nossa intuição.

Só tendo soberania sobre nós próprias nos elevaremos a um patamar mais alto no mundo, na sociedade e voltaremos a reinar como fizeram as nossas ancestrais.


domingo, 8 de março de 2020

De 2017 a 2020- A mulher que cresceu em mim


ANK SIMBOLO DA VIDA

"Nas últimas duas semanas ví na tv um documentario sobre grandes civilizações africanas, e um outro documentário no youtube sobre Ankh (na foto).
No documentário sobre grandes civilizações africanas, claro, está espelhada a característica matriarcal das nossas sociedades (antes do colonialismo), o poder da mulher e com quantas poderosas rainhas e guerreiras os europeus se encontraram, tiveram que lutar, negociar, por quem também se encantaram e apaixonaram...

Nunca vi tanta menção de tantas mulheres poderosas na história das grandes civilizações europeias. Me perguntei o quão admirados estariam os europeus ao encontrar-se com tais mulheres, ao serem tantas vezes derrotados por elas e suas capacidades e o quão as devem ter temido. Me perguntei se a noção de "lugar de mulher é na cozinha" se originou ou ganhou mais força global ali naquele momento, num esforço desesperado e deliberado de expansão imperialista.

Dias mais tarde vi o vídeo sobre o símbolo Ankh... Parece uma cruz, a única diferença é que a parte superior não é um retângulo. Em Ankh a parte superior é uma espécie de gota invertida, simboliza o ventre, o poder da mulher. A sua extensão para baixo representa o homem e as extensões laterais os filhos. Ankh é o símbolo da vida, que se acredita que inspirou a cruz do cristianismo. Mas para a cruz, removeu-se a componente feminina...

O dia da mulher, por alguma razão que ainda não sei vocalizar, sempre me soube a "bittersweet"...
Sempre me soube a "tomem lá um dia para vocês e alegrem-se nisto. Nós vamos reinando enquanto vocês continuam adormecidas e não sabem do poder que na verdade têm."
Então vou só meditar nisto durante mais uns anos..."

De 8 de Março de 2017
Sara

E aí chega de novo março… O ano é 2020 E eu continuo com o bittersweet do “Mês das Mulheres”.

Desde 2017 que eu faço uma reedição desse post que fiz em 2017, com um update do ano que se segue. Este ano não podia ser diferente. Mas este ano começo a sentir um pouco mais de claridade nesse sentimento de bittersweet que me traz Março.

Claro que é bem bom receber as flores, os elogios, ter destaque na midia, fazerem todos aqueles programas e palestras com temas que nos concernem, estarem os homens todos a desfazer-se em dedicatórias carinhosas para as mulheres e virem falar-nos de como é necessária maior presença feminina na governação do país!

É preciso sim maior presença feminina na governação do país! É preciso maior presença feminina em todos os lugares de poder no país. Começo a sentir que essa é a razão para o meu bittersweet. Esse encenamento todo durante este mês dando destaque à mulher, e nos restantes onze meses que se seguem se fecharem as portas, se fazer tudo de novo mais difícil, voltar o machismo, e esquecer-se do valor da mulher.

Mas nem vou falar sobre o que são as dificuldades de ser mulher na nossa sociedade. Não vou gastar energia com isso. Vou canalizar a energia para o conhecimento incontestável de que a mulher é o ser criador primordial, e que como disse Ilarion Merculief  nesta era o que quer que seja que seja novo será unicamente criado pela mão da mulher”. A partir do ventre da mulher. Esse lugar de criação! Criação de um novo mundo, de uma nova realidade.

Eu não me contento com termos só o mês de março. Eu não me contento com o sermos só donas de salões, eu não me contento com sermos na verdade o sustém da economia, mas a maioria de nós nesse papel ser zungueira, vendedora na praça, criar todos os filhos sozinha e não estar a tirar todo o proveito merecido daquilo que dá.

Eu sinto uma grande ambição crescer dentro de mim, uma vontade de ir buscar cada vez mais de forma feroz, como um lobo, e gosto disso. Gosto mesmo, muito poucas vezes me senti assim. É um coração que bate desenfreado, uma respiração que fica ofegante, uma expressão facial que se começa a contrair franzindo o nariz e cerrando os olhos, tal qual como quando um lobo rosna! O olhar está focado num objetivo e é cortante, desafiante, cheio de fogo, letal! Ninguém me pára!

Ninguém NOS pára!

Mas não pára mesmo! Porque cada uma de nós tem uma missão para cumprir neste mundo, e sim, este é o nosso momento, esta é a nossa era, vamos pôr isto em ordem!

Ninguém nos vai dar nada de bandeja, por isso sejamos lobas e vamos atrás daquilo que é nosso por direito e conquista. Vamos com voracidade, vamos com decisão, vamos como lobas que somos, sabendo que a nossa natureza também é selvagem e é dessa essência selvagem e primitiva que vem a nossa garra para enfrentar tudo! Ou quem já não viu uma mãe se transformar em toda poderosa quando a sua cria está em perigo?

Eu vejo mulheres transformarem-se em autênticas forças da natureza, terramotos e vulcões para dar à luz a novos seres humanos para este mundo. Achamos que a nossa força e garra só aparece nesses dois momentos? Mas é que não! Somos guerreiras! Principalmente nós africanas, que apesar de pouco sabermos disso, descendemos de rainhas, imperatrizes, líderes de exércitos que governaram em todo este continente.

E se as nossas ancestrais outrora já mandaram nessa terra toda, porque é que nós não? Porque é que nós nos vamos conformar com a posição de “doce, do lar e recatada” que o colono nos trouxe e impôs à força quando ficou enfuriado ao se deparar com tremenda força e poder que tinham as nossas ancestrais? Porquê?

Não. Eu digo que não! Eu digo não. Não mesmo!

Eu digo que sigamos o nosso caminho, com as plantas dos nossos pés, sentindo a vibração dessa mesma terra onde as nossas ancestrais pisaram e reinaram. Nos conectando com a força delas a cada passo que damos. Ouvindo no vento as suas vozes dizendo-nos quem somos e ao que viemos. 

Sentindo a pulsação e o bater do nosso coração quando vem essa vontade de conquistar, essa ambição assegurando-nos que no nosso sangue está a capacidade, de reinar, de governar, de gerir de guerrear! De lutar pelo nosso lugar!

Chega de sentar no lugar de vítima, naquele banquinho de madeira velho que já nem equilíbrio tem no canto escuro da sala. Tem um trono ali para ser ocupado.
Não vamos ser só destaque em Março. Vamos reinar o ano todo!

Levanta mulher, o mundo é teu!





“Okay, okay, ladies, now let's get in formation, 'cause I slay
Okay, ladies, now let's get in formation, 'cause I slay
Prove to me you got some coordination, 'cause I slay
Slay trick, or you get eliminated”

Formation, Beyonce

domingo, 1 de março de 2020

A tua paixão é o teu guia


No Sistema de chacras, nós temos na verdade 22 chakras, mas damos ênfase somente a 7. 

Isto é porque vivemos numa sociedade voltada para o físico, para o material, não nos ensinam que somos mente, corpo e espírito. Os 7 chackras a que damos maior importância, são pontos de energia que podemos situar no nosso corpo. Os restantes pairam no nosso corpo sutil, ou energético, que vai muito mais além do que o nosso corpo físico, mas é nosso. O nosso corpo energético é grande o suficiente para interferir com o corpo energético de outra pessoa ao lado de nós e assim as nossas energias influenciam-se umas às outras.

Porque é importante termos noção de que não somos somente corpo? Porque tendo essa noção somos capazes de nos autoanalisar mais profundamente, nos ouvir melhor e nos guiar melhor. Mesmo dentro do sistema de chakras que reconhecemos, temos que fazer uma mudança na nossa mentalidade e reconhecer que para além do sistema digestivo, nervoso, urinário, circulatório, respiratório que nos foram ensinados na escola, nós temos também o sistema energético, que é este composto por chackras que estão no nosso corpo. O mau funcionamento desse sistema, causa-nos desequilíbrios físicos e mentais.

Um dos chakras com que a sociedade atual tem grandes problemas é o chakra raíz, Muladhara, que fica na base da coluna, no cóccix. Já se sentiram ansiosos? É difícil desapegarem de alguém ou alguma coisa? Já sentiram medo da liberdade? Já se notaram demasiado exigentes, possessivos ou controladores? Ciumentos ou constantemente chateados? Todos estes são sinais de um chacra raíz desequilibrado, ou com falta de energia, ou com demasiada energia. O nosso chacra raíz equilibrado é o que nos dá a sensação de segurança, de solidez, de harmonia, de vermos o lado bom de tudo, nos dá adaptabilidade, simpatia, de estarmos a viver o nosso propósito e de estarmos a disfrutar daquilo que fazemos.

Quando estamos a falar da nossa vocação, estamos a falar de estarmos certos daquilo que queremos fazer para o resto da nossa vida. E como é que fazemos para estarmos certos disso? Quando somos mais novos somos indicados pelos mais velhos a fazer aquilo que de fora para dentro nos dá “segurança, estabilidade financeira”, porque realmente o dinheiro é importante. Mas e se pudéssemos saber usar a nossa criatividade (e todo o ser humano nasce criativo, se não nunca teríamos conseguido ser crianças) para fazer daquilo que é o nosso talento nato, a nossa paixão, o nosso ganha-pão? Sabendo usar a adaptabilidade que nos provê um muladhara chakra equilibrado.

Já viram a auto-confiança que é necessária para seguirmos em frente com os nossos sonhos? São muitas inseguranças à nossa volta, de outras pessoas que não tiveram a coragem de seguir os seus sonhos- os corpos sutis delas esbarram nos nossos-, que nos dizem que não conseguiremos e nos põem para baixo. Essas pessoas não são haters… São simplesmente pessoas inseguras, com um Muladhara desequilibrado. Somos muitos nessa situação no mundo. Durante a nossa vida ele se vai desequilibrar várias vezes, por isso temos que constantemente cuidar dele.

Ao escolher a nossa vocação devemos olhar para dentro de nós. Qual é o nosso sonho? Que atividade é que nos faz sentir paixão por ela? É exatamente por aí que temos que começar. Temos que dar ouvido a essa voz interior, porque ela nos guia, para onde devemos ir. Oprah diz “ O Universo fala por sussurros”.

Cada ser humano procura o seu propósito de vida neste munto. Todos procuramos! Quem nos poderá dizer qual o nosso propósito senão nós mesmos? A resposta está sempre dentro de nós. Por isso é preciso ir para dentro e autoanalisar a mente, e as emoções. A mente vai nos dar uma palavra e as emoções vão nos dar a confirmação de se aquilo é bom para nós ou não. É assim que escolhemos o que quer que seja…. Vemos algo concreto e depois decidimos com base em como aquilo nos faz sentir, se é isso ou não. Podemos dizer que as emoções nos levam por caminhos de entusiasmo e depois nos damos mal. Ainda temos mente. A emoção ajuda a saber o que é para nós e o que não é. A mente vai nos assentar e ajudar a planear o melhor caminho para juntar o útil ao agradável.

Eu estudei dança… Expressão corporal
Fui estudar teatro depois… Concedeu oralidade
Entretanto sempre babei ao ver uma mulher grávida, sempre quis estar lá na hora H do nascimento da criança dela, para lhe dar amor. Só dar amor. Sempre me fascinou o sistema sexual e reprodutivo feminino, e a forma natural como as coisas se dão. Até que fui dar num livro….

Ao fim e ao cabo tudo o que estudei antes, que eram tudo paixões, e que vocês podem dizer que não me levaram a lugar nenhum porque não me licenciei. Mas elas deram-me exatamente as ferramentas necessárias para eu estar aqui hoje a falar para vocês. O eu ter chegado aqui não foi coincidência. E apesar de eu não ter completado nenhuma das minhas licenciaturas, eu estudei exatamente aquilo que me seria necessário para estar aqui hoje. Sem nunca me ter passado pela cabeça lá atrás que algum dia eu disfrutaria de estar aqui de pé a conversar com vocês desta forma, e que estaria a sentir que assim estava a cumprir com o meu propósito de vida.

 É assim que o universo misteriosamente nos leva pelos caminhos da concretização do nosso propósito de vida. Muitas vezes parece que falhámos, aqui e ali, em lugares que pareciam crucias, mas não… Estamos a trilhar no nosso caminho! Prova e erro é um processo de aprendizado.
Trabalhar no meu Muladhara chackra ajuda-me a ter a solidez e segurança para enfrentar as mudanças que as decisões que tomo trazem, e muitas das minhas decisões requerem começar do zero. O que é uma coisa assustadora para muitos de nós. Mas eu não sei contar quantas vezes já comecei do zero.

Então, na vossa caminhada, quando estiverem com a vossa paixão a gritar por ação, porque é o vosso propósito na terra, estão aqui para isso, não desperdicem uma vida sem o cumprir. Busquem a vossa voz interior, usem a vossa emoção para decidir o que é para vocês e o que não é e fortaleçam o vosso chacra raíz para de dentro para fora vocês terem a estabilidade e segurança necessárias para enfrentar os desafios da transformação da vossa vida.

Estamos juntos, eu mesma ainda não cheguei aonde quero chegar, estamos todos na mesma caminhada. Em vez de projetarmos as nossas inseguranças naqueles que estão a tentar cumprir o seu propósito no mundo, vamos ser perseverantes e ajudar-nos uns aos outros a crescer!

Meu Querido Portugal

Meu querido Portugal...

Aqui vos fala uma portuguesa "café com leite", como vocês meus compatriotas dizem.
Bisneta de Santa Combadão, descendente de Judeus que decidiram vir fazer a vida em África onde ninguém teve a chance de lhes dizer "que voltassem para a sua terra", porque afinal África na altura era dos portugueses, e quem cá nascesse, até ao nascimento da minha mãe, era português também.
Nasci fora de solo português, ao contrário do meu irmão, nasci já de uma mistura de Portugal e África, mas coube-me a ancestralidade e a nacionalidade.

Meu querido Portugal, não vou fingir que não me tocas o coração, que não canto fado com alma, que não choro à beira do Tejo que não me acabo a dançar As Meninas da Ribeira do Sado, que não adoro o cheiro de fumo de Lisboa, ou que douradas não são o meu peixe favorito.

Mas meu querido Portugal, DESIGNORA-TE!!!
É desesperante que não o faças!

Quando não te aguentavas contigo mesmo, de pestes, miséria, crises sociais e sobrepopulação, pegaste numa bandeira com uma cruz arranjando desculpa divina para ires invadir e violar outras terras espalhando terror, desculturalização, apropriando-te de território que não era teu, de gente que não era tua, fazendo filhos em ventres que não honraste, deixando uma herança de roubo e corrupção e agora achas que "os pretos" caíram em teu território por acaso? E dizes que "voltem para a sua terra"??!
Deixa-te disso, que só te envergonhas!
Deixa-te de actos bárbaros contra quem veio de terras que te deram de mamar por séculos!
Devias estar a beijar-lhes os pés, pois forças-te-os a tirarem do seu para carregarem para o teu!
Devias estar a agradecer-lhes por te terem feito enriquecer e sair da miséria em que estavas para hoje poderes cruzar as cidades urbanizadas que o mundo vai olhando agora como o melhor destino turístico!
Devias honrar o sangue mouro, que mouro é negro, não é árabe branco como aparece nos teus livros adulterados de história, para fazeres as tuas gentes acreditarem que és branco "puro", e que corre nas tuas veias.

Devias saber o que é a Mouraria que tanto cantas, de onde saiu o Fado que é património e te leva a glórias em tantos palcos.
Devias saber mais de ti mesmo e do que te faz Portugal antes de abrires a boca para dizeres que qualquer negro volte para a sua terra. Porque é de todo o negro que tu és composto!

É do suór de todo o negro que Portugal existe!
É do ventre de muita negra que o teu povo existe!
É do solo de terras negras que te soubeste pôr de pé!

DESIGNORA-TE!!

Sobre ti mesmo, sobre a tua história, e deixa de ser a tua própria vergonha, que isso só é pura e simplesmente a não aceitação e ignorância de quem tu és.

Omm, Shakti


Nós vivemos num mundo em que tudo nos afecta. Consciente ou inconscientemente.

O ciclo da vida é um ciclo de união entre todos os elementos vivos e mortos visíveis ou invisíveis. As fases da lua, lá no universo, afectam as marés aqui no planeta, as marés afectam a forma como navegamos e pescamos, conhecimento para isso é passado de geração em geração nas linhagens familiares, o peixe que comemos afecta o nosso corpo e a nossa mente com os seus nutrientes, uma mente bem ou mal alimentada com ômega 3 e 6 do peixe vai ter os seus efeitos no nosso humor, e o nosso humor, a forma como nos sentimos connosco mesmos balança o nosso emocional, o nosso emocional afecta as crenças que temos de nós mesmos e acaba afectando a forma como lidamos uns com os outros… É um mundo de conexão, de união…

União é uma palavra que tem estado adormecida entre nós mulheres. Numa longa história resumida, há milénios atrás quando haviam muito mais sociedades matriarcais, muito mais culto à Deusa, à fertilidade, à natureza e às estações do ano, mulheres possuíam, conhecimento, sabedoria, e com isso poder que passavam de geração em geração, de mulher para mulher. Mulheres se elevavam umas às outras construíam e governavam reinos e impérios, lideravam exércitos.

Com o crescimento do patriarcado, muito pela força esse poder e sabedoria foram sendo destruídos.
Na intenção de desprover qualquer grupo, e neste caso as mulheres, de poder o lema dividir para reinar é imperioso! Dividir as mulheres criou a desunião entre elas. Este dividir começou com base no medo no temer pela própria vida, na necessidade forçada e criada no ter que entregar a outra para sobreviver ou viver minimamente bem. Cria-se um vácuo, um vazio na mulher, uma falta, que com a presença da outra faz com que a ela sinta que esse vazio se abre ainda mais. Cria-se insegurança na mulher pelo seu bem-estar e a noção ilusória de que só prejudicando, diminuindo, desconsiderando, afastando, julgando a outra nos sentiremos minimamente melhores. 

Histórias foram criadas para dividir mulheres. Umas foram chamadas de bruxas e disse-se que tinham poderes que faziam delas uma ameaça para todos, especialmente para as outras mulheres com quem elas lidassem. Criaram-se histórias que reforçavam a rivalidade entre as mulheres, como Cinderelas, Brancas de Neve, Pequenas Sereias… Transformou-se o homem em troféu, em alvo de disputa! Elas devem ser sempre as mais o que quer que seja e eles escolherão sempre as melhores, todas as outras ficarão no vazio, no desamor, no abandono, na feiura e na pobreza (porque o homem é sempre um príncipe rico e lindo), criou-se a mentalidade do medo e da escassez. Pôs-se as mulheres a vibrar nisso, e elas nesse ciclo ficaram por longos e milhares de anos.

A energia mudou, estamos num novo tempo, numa nova era. As mulheres estão em busca do seu crescimento pessoal, estão em busca de si mesmas, e quando nos voltamos para nós mesmas temos que nos encarar com a nossa espiritualidade, porque a espiritualidade está mesmo dentro de nós, de todos nós!

Quando nos encaramos com a nossa espiritualidade, o caminho, seja ele qual escolhamos, não é fácil.
E este de olhar para outra mulher e vê-la como uma adversária, um alvo a abater, é um que nos mostra uma ferida muito grande da alma que nós temos. Ele mostra-nos exactamente aquele lugar em que temos o vazio, o vácuo. Mas para onde não queremos olhar, porque é doloroso demais. Demais mesmo, podemos ter vontade até de não querer existir mais a ter que lidar com essa dor. Essa mulher para quem olhamos como adversária e olhamos com inveja, activa esse lugar de dor espiritual em nós, ela funciona como um espelho para nós. Nos mostra exactamente que onde ela é abundante, é onde nós estamos a viver em escassez. E essa escassez é unicamente de nossa responsabilidade. Curar essa dor, mudar essa mentalidade de escassez, dá muito medo, medo de nos enfrentarmos a nós mesmas. Mas é necessário faze-lo.

Esse caminho precisa ser feito. E quando queremos fazer esse caminho, não sabemos por onde ir, por onde começar. E não confiando as nossas vulnerabilidades a outra mulher, porque estamos a vibrar em desconfiança, pensamos que um homem, seja de que maneira fôr: nos ouvindo, fazendo amor connosco, sendo nosso namorado, nos dando carinho, nos dando bens materiais; nos pode ajudar a curar, a suprir esse vácuo, essa dor.

Mas nenhum homem irá entender tão bem essa dor quanto uma mulher como nós. Essa dor vem bem lá do fundo de uma perda, de uma ferida que foi causada há milénios atrás na destruição da nossa essência como mulheres. E só outras mulheres, que sentem o mesmo que nós, poderão nos ajudar a curar. No ADN delas, está essa mesma marca dessa ferida. Acredita, está!

Só quando nos curamos podemos ajudar outras mulheres. E quando nos curamos genuinamente, naturalmente se forma um elo, se abre um canal de luz que nos permite ver que estamos todas interligadas. Nesse momento cresce uma enorme vontade, surge um impulso forte, que não se consegue negar de estender a mão a outra mulher e dizer, vem que eu te acolho, vem que eu te mimo, vem que eu te ajudo!

Graças à Deusa, nem toda a sabedoria ancestral feminina ficou perdida. Ela ficou espalhada, fragmentada pelos quatro cantos deste mundo. Mulheres sábias silenciaram-se para os ouvidos que tomaram o poder do mundo, mas em sussurros, em preces, dentro de tranças, em canções, em orações, em danças, em brincadeiras, em livros de receitas, secretamente foram passando mensagens umas às outras e mantendo viva, ainda que fragmentada a sabedoria ancestral de união e poder feminino. E nós sentimo-la, nós sentimos quando dentro de nós se activa a força espiritual que nos cura, nos liberta e nos faz perceber as ligações e conexões que existem entre nós de forma tão clara e pura quanto água de nascente.

E agora aos poucos vamos nos contando umas às outras, unindo os pontos, costurando a tapeçaria. Criando novamente um mundo de mulheres sábias, recheado de amor e união.