Quando um bebé
está para chegar, imagino ser esse o momento em que um espírito tem o o
primeiro contacto com a dúvida. Esse questionamento humano que tanto nos tira o
sossego.
Um espírito não
tem dúvida, um espírito vive numa certeza sobre o tudo e o nada, tem uma
sabedoria infinita que lhe permite não sentir dúvida porque tudo o que precisa
saber já o sabe por intuição. Chamaa simlpesmente o conhecimento e muito rápiamente
ele vem até si.
Já quando o
espírito começa uma jornada humana, grande parte desse conhecimento deixa-se
ficar no lugar de que o espírito se vai distanciando, enquanto ele vai entrando
no plano físico. Quando está completo o seu corpo físico e chega o momento de
entrar para o mundo, sair do portal que é o ventre da sua mãe,, vem a dúvida.
Muito como nós nos perguntamos o que está para lá da morte, um bebé deve-se
perguntar o que está para lá daqui?
Depois de passar à volta de 40 semanas
dentro de um ventre em que lhe foram conferidas qualidades humanas e físicas, e
devagarzinho se foi familiarizando com a escuta humana, o paladar humano, o
toque humano, a visão humana, o olfato humano, e os sentimentos humanos- da mãe
que o bebé sente, e os seus que vão surgindo em relação aos da mãe- ainda que
em pequena dimensão, a dúvida que vem do que vai acontecer quando aquele cólo
do útero se abrir completamente deve ser o sentimento mais forte e medonho que
lhe pode invadir.
O que está do
outro lado? Tudo que esse espírito
conheceu até ali como vida humana vai mudar? Como será? Quem irá encontrar? As
sensações com que se familiarizou nesse tempo estarão ainda aí? Porque é que
ouve de lá de fora tanta conversa relacionada com sair do lugar confrontável em
que está para o mundo exterior? Tem mesmo que sair? Para quê sair?
Das coisas mais
difíceis de fazer na nossa condição humana é sair da nossa zona de conforto.
Pensem no quão difícil e angustiante é nos desafiarmos e sairmos da nossa zona
de conforto pela “primeira vez”. A nossa primeira saída da nossa zona de
conforto é o nosso nascimento. Podem imaginar o processo psicológico por que esse bebé
passa?
O povo Dagara do
norte de Afrika, que se espalha pelo Ghana Burkina Faso e Costa do Marfim, até
hoje ainda faz uma cerimónia que muitos mais de nós povos afrikanos fazíamos
quando vinha um novo ser para o mundo. Através da utilização de ervas e num
ritual shamânico seguro, a mãe é levada a um transe em que se
convida a que o espírito da criança com quem ela está concebida, tome voz pela
própria mãe e diga quem é e ao que veio. Há vezes em que o espírito é a encarnação de
um ancestral que já partiu há algum tempo, outras vezes é um espírito novo,
seja quem for, o seu nome é decidido nessa cerimónia, consoante o ancestral que
retorna, e ou consoante a missão que vem tomar no mundo. Um acordo é feito entre
a comunidade, a família e a criança, em como esta criança será criada e em como
a comunidade lhe ajudará a orientar-se para a sua missão de vida.
Esta cerimónia dá
confiança ao espírito para o momento do nascimento e prepara os pais, família
e a comunidade para que saibam como criar e ajudar esta criança que aí vem a lembrar-se da sua missão e encaminhar-se na vida. Em Áfrika,
criar uma criança não é trabalho só do pai e da mãe, é trabalho comunitário,
especialmente nas aldeias.
É pena que no
mundo moderno em que vivemos menos e menos isto aconteça… E mais e mais
nos questionamos como educar os nossos filhos, e pior, mais e mais queremos
todos saber, passamos a vida em buscar de nos responder a nós mesmos, o que
estamos aqui a fazer. Afinal a tecnologia indígena, como lhe chama Malidoma
Patrice Somé, já tinha o mecanismo para resolver esta nossa dúvida.
Me pergunto, como
podemos hoje em dia, não tendo acesso a essa tecnologia indígena conseguir
ajudar-nos a nós mesmos e aos nossos filhos a ter uma transição para o mundo
físico mais confiante e a saber como orientá-los na vida de acordo com o seu
propósito, a sua missão e não de acordo com a imposição daquilo que nós que já
estamos no mundo físico à mais tempo achamos que eles devem ser ou fazer. O que
muitas vezes causa choques -internos e com os pais- com a essência de cada um deles.
Sei que a
gravidez é um período em que a nossa mente nos obriga à introspecçao. A voltarmo-nos para nós mesmas, para a nossa intuição e para os nossos instintos.
Sei que é necessária essa conexão connosco mesmas, para podermos conectar com
os nossos filhos ainda dentro dos nossos ventres. Sei que telepatia começa por
aí, por sabermos identificar o que são os nossos sentimentos, pensamentos e
palvaras e quais são os dos nossos filhos. Sei que a meditação nos ajuda
muitíssimo nisso e que ela é, nada, mais nada menos que um estado leve, muito
leve de transe, que pode ser trabalhado e nos dá valiosos presentes. Eu mesma
em meditação já pude ouvir, não o meu, mas o coração do meu filho dentro a bater de mim. Sei que perguntando ao meu filho se ele era menino ou menina, com toda
a certeza ele me respondeu “quem pensas que sou? É claro que sou um menino” com
a personalidade forte que até hoje aos cinco anos o caracteriza. Milhões de
mães podem concordar comigo nos acontecimentos “mágicos” que não sabemos
explicar, que acontecem durante a gravidez, que nos são trazidos pela nossa
intuição e que por tanta dúvida, que o mundo que não nos ensinou a lidar com a
nossa intuição nos põe, deixamos de confiar neles, ou confiamos, mas depois
pô-mos naquela caixinha do “assuntos misteriosos ficam só aí” e não nos
aprofundamos neles.
No entanto a
intuição feminina, é daquelas coisas que sabemos que não falha. Ela existe por
um motivo.
Existe
comunicação entre mãe e filho, e sei que a mãe só tem que saber como se dá essa
comunicação para que possa confiar nela e não pensar que seja algo “da sua
cabeça”, para depois o varrer para fora da cabeça como se varre a poeira de casa.
Já alguns médicos ao fim da gravidez nos perguntam “tem tido algum sonho que lhe chame mais atenção?”. Isto porque eles sabem que
nos nossos sonhos vêm sim mensagens que podem ser determinantes para o nosso
parto. A nossa mente tem essa capacidade e cada vez mais a neuro ciência vai
dando importância e valor a isso. Cada vez mais somos estimuladas a conversar
com os nossos filhos dentro do nosso ventre e a nos afastarmos daquilo que
tanto física como emocional e psicologicamente nos afecta negativamente, porque
também afecta negativamente as crianças dentro de nós. A comunicação de
nós para os bebés já é facto. Falta agora sabermos ouvir e ler a comunicação
dos bebés para nós.
Que tal irmos
treinando ouvir aquela voz que na nossa cabeça responde quando chamamos
docemente “baby…?”, quais são as primeiras palavras que aparecem na nossa
mente, que pensamos que são a nossa imaginação? São mesmo? Que tal irmos nos
deitar à noite meditarmos um bocadinho e pedirmos a esse bebé que venha
conversar connosco nos nossos sonhos? E que tal acreditarmos nas respostas que
recebemos quando fazemos isso?
Que lindo seria preparar o caminho para que o bebé venha com confiança.
Que lindo seria saber no nosso íntimo como ajudar esse ser a caminhar.
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