domingo, 22 de março de 2020

A Dúvida do Bebé


Quando um bebé está para chegar, imagino ser esse o momento em que um espírito tem o o primeiro contacto com a dúvida. Esse questionamento humano que tanto nos tira o sossego.

Um espírito não tem dúvida, um espírito vive numa certeza sobre o tudo e o nada, tem uma sabedoria infinita que lhe permite não sentir dúvida porque tudo o que precisa saber já o sabe por intuição. Chamaa simlpesmente o conhecimento e muito rápiamente ele vem até si.

Já quando o espírito começa uma jornada humana, grande parte desse conhecimento deixa-se ficar no lugar de que o espírito se vai distanciando, enquanto ele vai entrando no plano físico. Quando está completo o seu corpo físico e chega o momento de entrar para o mundo, sair do portal que é o ventre da sua mãe,, vem a dúvida. Muito como nós nos perguntamos o que está para lá da morte, um bebé deve-se perguntar o que está para lá daqui? 
Depois de passar à volta de 40 semanas dentro de um ventre em que lhe foram conferidas qualidades humanas e físicas, e devagarzinho se foi familiarizando com a escuta humana, o paladar humano, o toque humano, a visão humana, o olfato humano, e os sentimentos humanos- da mãe que o bebé sente, e os seus que vão surgindo em relação aos da mãe- ainda que em pequena dimensão, a dúvida que vem do que vai acontecer quando aquele cólo do útero se abrir completamente deve ser o sentimento mais forte e medonho que lhe pode invadir.

O que está do outro lado?  Tudo que esse espírito conheceu até ali como vida humana vai mudar? Como será? Quem irá encontrar? As sensações com que se familiarizou nesse tempo estarão ainda aí? Porque é que ouve de lá de fora tanta conversa relacionada com sair do lugar confrontável em que está para o mundo exterior? Tem mesmo que sair? Para quê sair?

Das coisas mais difíceis de fazer na nossa condição humana é sair da nossa zona de conforto. Pensem no quão difícil e angustiante é nos desafiarmos e sairmos da nossa zona de conforto pela “primeira vez”. A nossa primeira saída da nossa zona de conforto é o nosso nascimento. Podem imaginar o processo psicológico por que esse bebé passa?

O povo Dagara do norte de Afrika, que se espalha pelo Ghana Burkina Faso e Costa do Marfim, até hoje ainda faz uma cerimónia que muitos mais de nós povos afrikanos fazíamos quando vinha um novo ser para o mundo. Através da utilização de ervas e num ritual shamânico seguro, a mãe é levada a um transe em que se convida a que o espírito da criança com quem ela está concebida, tome voz pela própria mãe e diga quem é e ao que veio. Há vezes em que o espírito é a encarnação de um ancestral que já partiu há algum tempo, outras vezes é um espírito novo, seja quem for, o seu nome é decidido nessa cerimónia, consoante o ancestral que retorna, e ou consoante a missão que vem tomar no mundo. Um acordo é feito entre a comunidade, a família e a criança, em como esta criança será criada e em como a comunidade lhe ajudará a orientar-se para a sua missão de vida.

Esta cerimónia dá confiança ao espírito para o momento do nascimento e prepara os pais, família e a comunidade para que saibam como criar e ajudar esta criança que aí vem a lembrar-se da sua missão e encaminhar-se na vida. Em Áfrika, criar uma criança não é trabalho só do pai e da mãe, é trabalho comunitário, especialmente nas aldeias.

É pena que no mundo moderno em que vivemos menos e menos isto aconteça… E mais e mais nos questionamos como educar os nossos filhos, e pior, mais e mais queremos todos saber, passamos a vida em buscar de nos responder a nós mesmos, o que estamos aqui a fazer. Afinal a tecnologia indígena, como lhe chama Malidoma Patrice Somé, já tinha o mecanismo para resolver esta nossa dúvida.
Me pergunto, como podemos hoje em dia, não tendo acesso a essa tecnologia indígena conseguir ajudar-nos a nós mesmos e aos nossos filhos a ter uma transição para o mundo físico mais confiante e a saber como orientá-los na vida de acordo com o seu propósito, a sua missão e não de acordo com a imposição daquilo que nós que já estamos no mundo físico à mais tempo achamos que eles devem ser ou fazer. O que muitas vezes causa choques -internos e com os pais- com a essência de cada um deles.

Sei que a gravidez é um período em que a nossa mente nos obriga à introspecçao. A voltarmo-nos para nós mesmas, para a nossa intuição e para os nossos instintos. Sei que é necessária essa conexão connosco mesmas, para podermos conectar com os nossos filhos ainda dentro dos nossos ventres. Sei que telepatia começa por aí, por sabermos identificar o que são os nossos sentimentos, pensamentos e palvaras e quais são os dos nossos filhos. Sei que a meditação nos ajuda muitíssimo nisso e que ela é, nada, mais nada menos que um estado leve, muito leve de transe, que pode ser trabalhado e nos dá valiosos presentes. Eu mesma em meditação já pude ouvir, não o meu, mas o coração do meu filho dentro a bater de mim. Sei que perguntando ao meu filho se ele era menino ou menina, com toda a certeza ele me respondeu “quem pensas que sou? É claro que sou um menino” com a personalidade forte que até hoje aos cinco anos o caracteriza. Milhões de mães podem concordar comigo nos acontecimentos “mágicos” que não sabemos explicar, que acontecem durante a gravidez, que nos são trazidos pela nossa intuição e que por tanta dúvida, que o mundo que não nos ensinou a lidar com a nossa intuição nos põe, deixamos de confiar neles, ou confiamos, mas depois pô-mos naquela caixinha do “assuntos misteriosos ficam só aí” e não nos aprofundamos neles.

No entanto a intuição feminina, é daquelas coisas que sabemos que não falha. Ela existe por um motivo.

Existe comunicação entre mãe e filho, e sei que a mãe só tem que saber como se dá essa comunicação para que possa confiar nela e não pensar que seja algo “da sua cabeça”, para depois o varrer para fora da cabeça como se varre a poeira de casa. Já alguns médicos ao fim da gravidez nos perguntam “tem tido algum sonho que lhe chame mais atenção?”. Isto porque eles sabem que nos nossos sonhos vêm sim mensagens que podem ser determinantes para o nosso parto. A nossa mente tem essa capacidade e cada vez mais a neuro ciência vai dando importância e valor a isso. Cada vez mais somos estimuladas a conversar com os nossos filhos dentro do nosso ventre e a nos afastarmos daquilo que tanto física como emocional e psicologicamente nos afecta negativamente, porque também afecta negativamente as crianças dentro de nós. A comunicação de nós para os bebés já é facto. Falta agora sabermos ouvir e ler a comunicação dos bebés para nós.

Que tal irmos treinando ouvir aquela voz que na nossa cabeça responde quando chamamos docemente “baby…?”, quais são as primeiras palavras que aparecem na nossa mente, que pensamos que são a nossa imaginação? São mesmo? Que tal irmos nos deitar à noite meditarmos um bocadinho e pedirmos a esse bebé que venha conversar connosco nos nossos sonhos? E que tal acreditarmos nas respostas que recebemos quando fazemos isso?

Que lindo seria preparar o caminho para que o bebé venha com confiança.
Que lindo seria saber no nosso íntimo como ajudar esse ser a caminhar.

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