O Incontruztruz, no Instagram fala muito sobre isto! E adoro o trabalho que Lurine, Vanda, Micaela, Meninha e
todas as convidadas que por lá passam têm estado a fazer nos IG’s lives delas
para todas as mulheres palops.
Tenho 30 anos e
cada dia me admiro mais comigo mesma. Me admiro mais com o facto de apesar de
ter sido sempre uma pessoal fiel a mim mesma, na verdade nunca o fui a um nível
profundo…Se tivesse sido não estaria só agora com 30 anos a descobrir coisas
que já nasceram comigo, que são a minha essência e sempre andaram por aqui a
dar o ar da sua graça aqui e ali, mas que por medo de ir contra a maré não
vivi, não fui, não fiz, não me conhecí!
Somos preparadas
não só pelas nossas mães e famílias, mas por toda a sociedade com os seus
enormes programas de condicionamento mental de brinquedos domésticos para
meninas, cores específicas para meninas, debates na tv e rádios no dia da
mulher, letras de múscias e afins de como as mulheres estão a “perder” as suas
virtudes, porque antigamente todas sabiam cozinhar e pregar um botão. Todas
serviam ao marido. De como devemos ser submissas e obedientes, como devemos nos
apresentar ou vestir para ir à casa do sogro, das comidas que devemos saber
fazer para agradar a sogra. É um manual completo de “como ser mulher” que
recebemos de todos os lados, que realmente nos parece o mais natural seguir
aquelas diretrizes todas. Não queremos ser as más mulheres, e lá no fundo só
queremos que gostem de nós, então toca a nos moldarmos para sermos aceites e
gostadas, principalmente no seio familiar do cônjuge. O treinamento já começa
com 7 anitos… Nãaao, mentira, estou no gozo! O condicionamento já começa quando
escolhemos rosa para a fêmea que está ainda no nosso ventre. “Estica bem esses
lençóis porque quando tiveres o teu marido, ele não fica nada contente se não
souberes fazer a cama!”; “Tens que saber esfregar as golas das camisas do teu
pai, para saberes esfregar as do teu marido”; “Se não souberes cozinhar, lavar
e arrumar não sei o que será da tua casa” é de facto espetacular.
Nessa caminhada
lá nos formamos santas (defino santa como aquela que desconhece a sua
sexualidade, vocês sabem do que estou a falar) moças prendadas! Uma maravilha.
Nem me vou meter pelo campo do desconhecer a sexualidade, porque só isso é
assunto para um outro artigo inteiro. Só quero falar mesmo de nós, moças
prendadas!
Xeh! Estamos
todas prontas, sabendo lavar golas de camisas e fazer bolsar bebés. Sabemos
muito bem, antes de o sermos, sermos esposas e mães. Sabemos! Muito bem!
Mas sabem o que
não sabemos? Sermos nós mesmas, sabermos falar a nossa língua a nossa verdade.
É! Antes mesmo de sabermos quem somos e como somos, e como sermos nós mesmas,
já sabemos ser esposa e mãe. Antes de sermos verdadeiras connosco mesmas, já
juramos bandeira ao ser correta e a certa com e para o mundo inteiro. Carroça à
frente dos bois! E esqueçam o conhecermos e dominarmos os nossos talentos… Que
é isso de talentos?
E depois como vou
ser esposa e mãe sem saber o que eu sou, como sou e o que fazer para ser eu?
Somos réplicas,
robots que funcionam da forma que foram ditos para funcionarem e que depois crasham,
dão pane no meio da experiência marital ou materna. Umas seguem a empurrar
assim mesmo: “casamento é mesmo assim, maternidade é mesmo assim: sacrifício!”-
conformam-se e vivem vidas infelizes. Infelizes consigo mesmas, às vezes são
doces e tristes, outras frustradas e violentas com os filhos enchendo-os de
porrada e berros (replicando um comportamento já antes vivido por elas mesmas,
justificado como educação), como escape das suas frustrações e traumas de que
sequer têm noção. Outras rebelam-se, fogem do matrimónio e às vezes também da
maternidade (lembram-se de todas as mulheres que julgamos porque abandonam os
filhos com alguém, ou no hospital, ou no caixote do lixo, ou debaixo de um
carro?), procurando algo que muitas vezes nem sabem o que é, só sabem que não
se sentem bem ali, que há uma confusão mental profunda a acontecer dentro
delas, que é demasiada pressão para uma só pessoa, que essa pele precisa ser
arrancada do seu corpo porque sufoca, pica e corta por dentro, faz-nos sangrar,
mas ninguém vê.
Por sorte um
punhado de nós está a buscar o seu interior, está a ouvir a sua intuição, e aí
começa uma caminhada bonita, mas também difícil e muito dolorosa de
autodescoberta e autoconhecimento, descrita no livro de Élia Gonçalves “O Mito
de Ophídia”.
Esta caminhada
pode também ser feita dentro do matrimónio. Mas requer uma flexibilidade,
abertura, e um nível de compreensão e liberdade a que poucos, muito poucos dos
nossos homens foram ensinados a ter para com as mulheres, para com as “suas”
mulheres! Exige mudanças fortes e muito trabalho em equipa dentro do casal, o
que é ainda mais delicado quando há filhos.
Eu acho que
seriamos melhores mães e esposas, se quiséssemos ser mães e esposas, se nos
conhecêssemos bem, se fôssemos nós antes de sermos mães ou esposas. Se nos explorássemos
por dentro e por fora, se conhecêssemos as nossas capacidades, limites, inclinações
e talentos completamente, se nos permitíssemos sem medos, sem julgamentos, sem
timidezes expandir-nos em cada área de ação que sentíssemos desejo de expandir,
se soubéssemos como agimos, porque agimos, e se queremos mudar a forma de agir,
o que fazer para mudar. Se soubéssemos do que realmente gostamos, através de
nos permitirmos explorar os nossos gostos sem nos limitarmos porque ouvimos que
falarmos a nossa verdade é errado, ou nos comportarmos segundo aquilo que
verdadeiramente somos “fica mal”. Quase sempre adotamos para nós padrões de
pensamentos e dizeres que são os de outros e não os nossos. Mas porque os
ouvimos como doutrina durante tanto tempo e em tão crucial altura do nosso
desenvolvimento que fica como nosso para sempre. Vestir amarelo, por exemplo,
na altura em que eu era miúda, era uma estupidez e ficava mal a todo o mundo! E
eu até gostava de amarelo. Mas demorei a começar a vestir amarelo, mesmo depois
de crescer, porque havia o padrão comum que amarelo era berrante demais, não se
vestia, ficava mal! E quem diz vestir amarelo, diz ser pilota de aviões, diz
decidir não ser mãe, diz escolher ter um marido mas ser firme nas suas posições
e arumentos, diz escolher dedicar-se com toda a ambição e garra a uma carreira
e não à família e maternidade, diz ter o controle e soberania do seu corpo, diz
ser dona das suas escolhas, e todos
outros dizeres sobre como devemos ser e agir que nos levam a ser e agir de
acordo com essas regras, que nada têm a ver com o que somos e com o que aqui
viemos fazer neste mundo.
Somos seres
individuais, cada um com o seu propósito e seus talentos. Não é suposto sermos
todas iguais nem fazermos a mesma coisa. Todas um exército escravo de
manutenção doméstica e continuação da espécie. É suposto usarmos os nossos
talentos para contribuirmos para um mundo melhor. Nem mesmo Deus quer que
desperdicemos esses talentos, porque se quiserem pensar assim, quem nos os deu,
afinal? Mas se não sabemos quem somos, como sabemos quais são os nossos
talentos? Se nos formamos para ser esposas e mães e vamos estudar qualquer
coisa que nos dê dinheiro exclusivamente para nos alimentarmos e termos um
teto, e ainda assim isso fica insignificante depois que nos casamos com um
homem, em vez de realmente desenvolvermos o nosso talento e vocação, só estamos
a ser mais um robot, que vive mecanicamente sem dar a sua contribuição única,
que só ela pode dar a este mundo.
Os nossos sonhos,
são a nossa missão neste mundo. Atrevam-se a sonhar, e a perseguir e executar
os vossos sonhos. Atrevam-se a deixar ouvir a voz interior, atrevam-se a
conhecer-se de dentro para fora, o lado bom e o lado mau, a saber das vossas
virtudes e daquilo que pode ser trabalhado para serem a melhor versão de vocês
mesmas.
Jovens meninas,
atrevam-se e acostumem-se a dar-se, ou a lutar por essa liberdade de primeiro
explorarem-se a vocês mesmas, seja naquilo que for! Conheçam-se como ser
humano, como mulher primeiro, antes de serem qualquer outra coisa que a
sociedade vos diz que têm de ser. Explorem e desenvolvam os vossos talentos. Vão
a fundo, expandam-se sem medo, conquistem o mundo! Porque é isso que traz
sentido à vida. Todos, homens e mulheres estamos à procura do nosso propósito
neste mundo e de dar sentido à nossa vida. Primeiro isso, depois o resto! O que
não anula que o propósito e sentido de vida de muita mulher seja ser esposa e
mãe. Se é isso, também vos encorajo a dedicarem-se com amor e perseverança! Mas
há que saber que é realmente isso. Há que dizer “eu sou mãe, eu sou esposa
nata”, com certeza, porque sabemos disso, porque nos conhecemos!
Deixem-se
conhecer! E como diz o pessoal do Incontrustruz: “Vai viver, preta! Vais
gostar!”
Talvez seja do hábito, talvez seja de já te conhecer em ações o que aqui aparece em palavras, talvez seja de ter orgulho em gostar de ti, porque significa que me alinho com as tuas palavras... talvez seja disso e de muito mais, de saber que há pessoas que se ligam quer sejam sangue ou não, porque essa ligação vem de outros tempos... sim, talvez seja disso... mas a conclusão é sempre a mesma...
ResponderEliminar... que adoro ler-te, ouvir-te, ver-te. Que aprendo. Que me enche ouvir a mulher em ti, a falar para essa parte do feminino que todo o homem tem e que precisa nutrir se quiser ser melhor companheiro, filho, e pai... ou como dizes TÃO CLARAMENTE AQUI... Ser melhor PESSOA!
Sim preta... eu vou viver... e já estou a gostar!
Espero que muitas outras mulheres pretas(obviamente sem desmerecer mulheres de outras raças, etnias...), Possam ler este texto e, que possam sentir uma ligação com ele, que as leve no caminho para a descoberta!!!
ResponderEliminarSarita, parabéns pelo lindo texto!
ResponderEliminarDe facto estamos na era do empoderamento femenino, da descorberta, o momento de sair da caxinha! Porém, algo me preocupa nessa era, é justamente a má interpretação que muitas mulheres fazem das suas descobertas.
Cada ser é singular neste mundo, e vou falar de nós como criação divina,porque
felizmente não sei mais falar de nada sem incluir o Todo Poderoso.
Quando Deus nos criou, colocou cada um aqui com sua excelência seu propósito, coisas que dependendo muito da forma como somos criados podemos alcançar ou não esse propósito.
Não obstante a tudo isso o que vale nessa vida é ser de verdade, é se conhecer, é não fazer as coisas pelo outros. É aprender a se escutar.
No teu texto, falas sobre isso, e estou completamente de acordo, ser mãe e esposa porque o mundo diz, quando não é o que você sente realmente, deve ser cruel. Você se colocar num mundo, num papel do qual você não se identifica.
Mas chamo atenção a muitas mulheres que querem sim ter um lar, mas não estão dispostas a viver os desafios de um lar. Coisa que não consigo perceber muito bem.
Não quero aqui parecer a mamã diaconisa, ou mamã Pastora, mas família é instituição divina, portanto não é brincadeira. Quando duas pessoas se unem no intuito de formar uma família, devem saber que ambas têm diferentes funções e juntos a obrigação de fazer dar certo, mas pra isso cada um tem que se conhecer individualmente, pra saber se de facto está disposta a trocar mais fraldas da criança do que seu parceiro, isso pra mulheres; e pra homens, saber que quando se escolhe ter família é pra te-la como prioridade.
O que falo aqui é que muitos lares têm sido destruídos por pura tolice, porque as pessoas têm percebido muito mal o empoderamento femenino. Se você não se identifica com situações de um lar, o ideal é não ter lar mesmo.
Agora, se você tem e quer viver como se não tivesse, porque se descobriu, porque tens outros sonhos e etc, aí é grave.
Podes sim ser essa pessoa que vai atrás dos seus sonhos e também levar a bom porto a sua família. Você não precisa gostar de uma coisa só, o importante é ter equilíbrio.
Cada um conhece suas funções dentro de uma relação e isso não temos como mudar, podemos sim adptar, melhorar, tudo pra sair daquele modelo cansativo e infeliz que nos incutiram na mente. Pra isso, estejam atentas as escolhas.
Porque o que vai definir a sua felicidade nessa vida, serão as tuas escolhas, sejas tú solteira, mãe ou esposa.
O que desejo a todos é um Espírito renovado, algo que produza transformação diária, afim de causar paz interior a ti e a todos a sua volta.
Ual! Preciso compartilhar!
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