Não por
sofrimento, não por violência, mas por ritual. Um ritual se repete todos os
meses no nosso ventre. O ritual de preparar a cama para a possibilidade de se
gerar um novo ser. O ritual tem dois caminhos a seguir. O de gerar esse ser, e
o de desfazer essa cama para fazer outra para próximo ciclo, que irá esperar a
possibilidade de outro ser.
Assim.
Mês após mês...
Talvez, a cada 28…
Quando se desfaz
a cama se sangra. Esse sangrar durante anos foi considerado triste, mau, ligado
a sofrimento, isolamento, repulsa, até mesmo nojo.
Tão mal interpretado
é esse ritual, que deixamos de saber lidar com ele. Catalogamos como nojento e
impuro o nosso corpo nessa altura. Silenciamo-lo com anti-concepcionais que
falsificam esse ritual, ou que o suspendem por longos períodos de tempo.
Eu também o
fiz... Eu também não o entendia. Eu também o ressentia. Ressentia e negava a
minha própria natureza, negava-me como mulher. Mas o sangue sempre foi mais
forte. Tão forte que ele gritava desesperadamente, fazendo-me retorcer na mais
agoniante e incapacitante dor, todos os meses, para que eu voltasse à minha
essência, que lá iria encontrar harmonia e o fim do sofrimento.
O sangue que
escorre pelas nossas pernas a baixo todos os meses, que sai do nosso útero, não
é um choro de um útero sofrido por não desempenhar o seu papel criativo de
gerar um ser. É um ritual de purificação.
O sangue que
desce do nosso útero em direcção à terra, vai em busca da Mãe Terra, para lá
depositar aquilo que já não nos serve. Para nos limpar das nossas impurezas.
Das físicas, das mentais, das energéticas, das emocionais.
Antes do sangue
descer o nosso corpo reúne tudo aquilo que nos faz mal, passamos por uma
espécie de catársis. Nos sentimos tristes, deprimidas, pesadas, sem motivação, irritadas
com o mundo externo, chamadas a interiorizar-nos. Se ouvirmos esse chamado
meditamos naquilo que já não nos serve mais e participamos activamente do ritual.
De um ritual que é nosso, feito no templo que é o nosso ventre. Como podemos
estar ausentes?
Podemos mesmo
criar uma maior catársis. Estar conscientes de por a intenção para deixar sair
aquilo que nos pesa, nos entristece, nos faz sentir nauseadas, nos põe para
baixo.
Existem químicos
a intoxicar-nos o corpo, vomitemo-los!
Existem energias
negativas a poluir a nossa aura, enxotemo-las!
Existem emoções
negativas a toldar a nossa mente, curemo-las!
Existem
pensamentos negativos a formar padrões e a guiar as nossas vidas, mudemo-los!
Esta é a hora de
nos purificarmos! É quando o sangue desce que temos mais poder para nos
purificarmos internamente.
É uma
oportunidade que só nós fêmeas temos, porque carregamos tanto do mundo, e
carregamos o poder da continuação da nossa espécie, da renovação da nossa espécie.
Todos os meses precisamos nos purificar, nos esvaziar um bocado mais da carga
para continuar.
Quando o sangue
desce, às vezes desce com desconforto, às vezes desce com dor. Às vezes com
muita dor.
Quanto mais dor,
mais força está esse útero a fazer para se purificar de feridas profundas que
ele tem. Mais determinação ele tem para se curar, mais ele clama para que nós
sejamos mais presentes de corpo e mente nesse ritual de purificação, para que
vamos profundo adentrando em nós e exploremos aquilo que nos dói na alma, que
nos marca, traumatiza, que passa de geração para geração, que trazemos das
mulheres da nossa família que nos antecederam, que colhemos das experiências da
nossa infância, que guardamos dos amores da nossa juventude. Foi, é assim com o
meu útero. É assim com todos úteros.
Carregamos todo o
peso de várias vidas! De várias mulheres.
Quando o sangue
desce ele traz com ele todos os químicos tóxicos, todas as emoções negativas,
todos os pensamentos negativos, todas as energias negativas, todos os traumas
generacionais, tira-os à vez do nosso corpo, do nosso templo, e vai dá-los à
Mãe Terra para que os recicle.
Quanto mais
estivermos conscientes desse ritual, melhor nos purificamos.
Conectemo-nos ao
nosso sangue. Pois ao amanhecer o dia após o final da descida do sangue, somos
novas. Sentimo-nos revitalizadas, cheias de energia, criativas, felizes, de
braços abertos para a vida! Respiramos um ar mais puro, somos puras,
fomos purificadas.
Vendo nesta optica, quero abraçar a dor que a cada 28 vem. Palavras que transformam.
ResponderEliminarAbraça, ouve-a, pergunta o que ela te quer dizer. O nosso corpo é sábio e comunica connosco. Deixa-te ouvir, acredita na tua voz interior.
EliminarGratidão