Lindos, complexos
seres deambulando pela terra, a maior parte do tempo perdidos em relação a
algum aspecto da nossa vida, seja ele profissional, pessoal, amoroso, familiar.
Uma das coisas
que nos deixa bem perdidos são as nossas relações. Sejam elas de que tipo
forem, elas são difíceis de construir, de manter, de recuperar, de acabar. E
muitas vezes depois de as acabarmos elas ainda se alongam pairando nos nossos
pensamentos ou corações durante o tempo que tiverem que ficar.
Enquanto isso
somos inundados com dezenas de artigos em revistas, com palestras de outros
seres humanos, a prometerem-nos fórmulas de como fazer as nossas relações
funcionarem - que é tudo o que queremos. Conselhos de amigos e familiares nos
dizem o que está certo e o que está errado nas relações, o que devemos aceitar
e o que não, nós mesmos desenhamos nas nossas cabeças “a relação ideal” e tudo
aquilo que sai minimamente desse padrão já não é aceitável para nós.
Posicionamo-nos de uma forma e dali não sairemos. A relação ou a outra pessoa é
que tem que fazer o match, a correspondência connosco e com as nossas
expectativas para estarmos satisfeitos.
Não sei se há um
tipo de relação mais difícil que outra. Se as de trabalho, se as familiares, se
as amorosas, se entre amigos. Sei que sempre,em algum momento, elas se complicam. Sei que nunca
são um mar de rosas estável, sei que dependendo de todas as variantes dos seres
humanos nelas envolvidas, quando esses seres humanos não se conhecem a si
mesmos - e se conhecer é um trabalho de vida -, não se escutam a si mesmos nos
momentos em que atravessam para poderem interpretar como estão a reagir à
travessia desse momento, não se compreendem com compaixão, e quando não fazem
tudo isso com o outro ser humano com quem têm uma relação, as coisas se
complicam.
Longe de mim
querer dar fórmulas… Nunca haverá uma fórmula para uma relação perfeita, na
minha opinião. Nós somos dinâmicos e estamos em constante mudança. Até o que eu
disse no parágrafo anterior deve ser constantemente analisado e actualizado.
Para além de sermos diferentes uns dos outros, nós somos diferentes ao longo da
vida. As nossas etapas na vida nos mudam, os acontecimentos da nossa vida nos
mudam, os aprendizados da nossa vida nos mudam. Não somos sempre lindos e maravilhosos,
temos defeitos e temos momentos de não sermos as melhores pessoas, e me atrevo
a dizer que temos direito a esses momentos também.
Acho que estarmos
sempre abertos a aprender e a novas perspectivas ajuda muito. Aprender é
observar, analisar, escutar activamente, reter o que se observou, analisou,
escutou e utilizar de forma inteligente quando necessário. Acho que olharmos
para as relações também como um constante aprendizado, sem as darmos por garantidas,
tem um valor enorme. Isso não vai impedir que os choques apareçam. Eles vão
aparecer sim, a qualquer momento vamos fazer algo inesperado, por qualquer
razão que vai desestabilizar a relação, e está tudo bem! A sério, está tudo
bem, ok?
Os nossos erros
são as mais lindas e puras formas de se aprender. Não se aprende, não se evolui
se não pelo erro. Tentativa e erro é o caminho natural para o sucesso. Ou
achamos que o primeiro avião construído deu logo certo, voou por aí céu a fora?
E ainda depois de dar certo para ele evoluir aos tipos de aviões que conhecemos
hoje, cargueiros, caças, comerciais, muitos erros foram cometidos, muitas adaptações
foram feitas, muitas renovações, muitas inovações. Com relações, o mesmo! São
dinâmicas, não há estagnação. São um constante projecto em crescimento, e para
que elas fiquem mais fortes, mais sólidas, para que se estejam sempre
actualizadas, preparadas para os novos tempos e as novas pessoas em que nos
transformamos, é preciso errar. É preciso cometer erros sim. E depois de os
cometer estar pronto para pedir desculpa. E depois de os vermos serem cometidos
connosco e termos as nossas emoções alvoroçadas, respirar e observar, analisar
esse erro, conversar com compreensão, perceber de onde ele veio e procurar não
o culpado, mas a solução. Isto exige um tal nível de abertura, entrega,
humildade e respeito pela vulnerabilidade nossa e do outro, que só se atinge
praticando. Também não vem do nada. O abrir o coração doído para entender o
erro do outro, ou abrir o coração para pedir perdão pelo erro, não é tarefa
fácil. Mas é tarefa possível, é tarefa praticável, como todas as tarefas por
que tivemos que fazer na escola que nos deram carga até finalmente entendermos
para passarmos de classe. Se estivermos focados na busca da solução e não do
culpado, chegamos lá. Porque o que é que acontece depois de encontramos o
culpado? “A culpa é tua!!” E ponto final, acabou. Se resolveu quê? Quando vamos
à procura da solução e estamos abertos para trabalhar nela, aí sim passamos de
classe. A relação sobe a um patamar novo, evolui e se fortalece.
E assim no meio
de tanta tentativa e erro, chegamos aos Boeings das nossas relações e vamos
ainda mais além para as naves espaciais. Dentro de nós, ter essa vontade de
melhorar constantemente é muito importante. Porque quando temos a vontade, nos
dispomos a fazer o que for preciso para melhorar.
Mas aprendi esta
semana ainda mais sobre seres humanos, as suas variações, como elas afectam as
suas relações e como podemos trabalhar nisso. Observei uma mesma situação entre
quatro pessoas em que simplesmente as reações à mesma coisa foram completamente
diferentes. Também observei como a euforia nos dá força para nos predispormos a
fazer coisas que num estado de maior calma e racionalidade não faríamos. Há
realmente uma vibração mental diferente quando estamos num estado de euforia,
só seguimos a onda. E todos nós somos apanhados em estados de euforia de vez em
quando, faz parte das vivências dos seres humanos. Nem sequer precisamos de
substâncias nenhumas para isso. As nossas sessões de estigas são um gatilho
maravilhoso para a euforia. Às vezes acabam bem, outras acabam mal, o que é
preciso é saber que nos deixamos levar pela onda da euforia e consertar o
excesso cometido. É preciso ter cuidado com o estado de euforia, mas também não
o oprimir, nem o condenar. Ele faz-nos bem, rimo-nos, relaxamos, segregamos
endorfinas, como seres humanos precisamos disso, precisamos de sair do constante
estado de controle e cuidado. Só que quando as coisas dão errado também
precisamos nos compreender.
E neste estado de
euforia em que estavam estas quatro pessoas de repente cai uma bomba
proporcionada por uma das pessoas que obviamente puxou um de mão e pelas
diferentes reações pôs freio à alegria da euforia. Um pessoa entrou em choque,
outra viu o meio termo, outra manteve-se em estado de euforia e viu uma forma
de continuar a brincadeira e deixar a bomba para ser abordada com maior cuidado
noutra altura, e a que largou a bomba ficou em suspense.
Quatro pessoas,
uma situação, uma “bomba”, quatro reações. Lindo! Simplesmente seres humanos
sendo seres humanos, cada um do seu jeito… O importante ali foi esses seres
humanos terem se lembrado que cada um tem uma dinâmica diferente, mas que ainda
assim eles se importam uns com os outros.
Cada um de nós tem
uma forma de estar na vida diferente, se expressa e expõe de forma diferente,
tem tempos diferentes, entende a vida, os sentimentos, as situações, as
relações de forma diferente… E na verdade, só dá mesmo para fazermos outra
pessoa entender como nós entendemos e sentimos as coisas, não para fazê-las
entender e sentir do mesmo jeito que nós. Somos demasiado cheios de vivências,
ADN, e informação astrológica que nos dão a beleza da diversidade, para termos
mesmo a ambição de querer tornar-nos todos iguais. Simplesmente não tem como na
igualdade haver equilíbrio, porque não há polos distintos para criar o equilíbrio
e a harmonia. A diferença é necessária, é bela.
A diferença cria
os choques, mas a compreensão da diferença ajuda a aprender com os choques e a
passar de classe.
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